O escândalo jurídico do prefeito de Garanhuns
Em agosto de 2025, a cidade de Garanhuns, no agreste de Pernambuco, virou centro de um intenso debate jurídico e ético após a Justiça suspender, por meio de liminar, o pagamento de um polêmico auxílio-alimentação de R$ 5 mil mensais ao Prefeito de Garanhuns, ao vice-prefeito e aos secretários municipais. O benefício havia sido aprovado em junho pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo próprio chefe do Executivo municipal, gerando um impacto estimado de R$ 750 mil por ano aos cofres públicos.
A decisão atendeu a uma ação popular movida pelo advogado Jorge Luiz Ferreira Guimarães, sócio e advogado da Reis Advocacia, foi ajuizada por cidadãos inconformados com a medida, especialmente diante de indícios de que o município já está com gasto de pessoal acima do limite prudencial previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
O caso ganhou grande repercussão, mobilizou opinião pública e lançou luz sobre os limites éticos e legais na concessão de benefícios a agentes públicos. Neste artigo, vamos mergulhar nos detalhes jurídicos do caso, explorar as principais teses envolvidas, entender os efeitos da decisão e como cidadãos e gestores devem se portar diante de situações semelhantes.
O caso do Prefeito de Garanhuns
A situação em Garanhuns começou quando a Câmara Municipal aprovou uma lei municipal instituindo um “auxílio-alimentação” no valor de R$ 5 mil mensais para o Prefeito de Garanhuns, seu vice e os secretários municipais. O benefício, segundo a justificativa oficial, teria por objetivo recompor perdas alimentares em meio à alta inflacionária.
No entanto, o que parecia uma medida administrativa acabou se tornando um escândalo jurídico quando foi revelado que o benefício foi criado sem qualquer estudo de impacto financeiro e em meio a um cenário de dificuldades orçamentárias. De acordo com dados apresentados na ação popular, o município já estava com despesa de pessoal comprometida em 56,1% da Receita Corrente Líquida, acima do limite prudencial de 51,3% estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A juíza que analisou a ação movida pelo Dr Jorge Guimarães, ao conceder a liminar, destacou:
“Não há nos autos demonstração da origem dos recursos para arcar com a despesa criada, tampouco estudo de impacto orçamentário. (…) Diante do exposto, defiro a tutela de urgência para suspender os efeitos da Lei Municipal que instituiu o benefício alimentar ao Prefeito de Garanhuns, ao vice e aos secretários municipais.”
A decisão teve efeito imediato e suspendeu o repasse dos valores, que já havia sido creditado nas contas dos beneficiários. O caso lançou um alerta para a prática de criação de vantagens salariais sem respaldo legal, especialmente em épocas de restrição fiscal.
Contexto jurídico e teses aplicadas ao caso do Prefeito de Garanhuns
Do ponto de vista jurídico, o caso do Prefeito de Garanhuns levanta uma série de questões constitucionais e legais que merecem atenção:
- Violência à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000)
- O art. 16 da LRF exige que toda criação ou ampliação de despesa obrigatória esteja acompanhada de estimativa de impacto orçamentário-financeiro e indicação de fonte de custeio.
- Princípio da moralidade administrativa (CF, art. 37, caput)
- A criação de um benefício pessoal, com potencial caráter indenizatório, para quem o institui e sanciona, compromete a moralidade e a impessoalidade.
- Vedada equiparação a benefícios trabalhistas (STF, RE 650.898)
- O Supremo Tribunal Federal entende que agentes políticos não podem receber benefícios que caracterizem vencimentos indiretos.
- Ofensa ao princípio da legalidade e transparência
- A ausência de publicidade e de debate público suficiente acerca do tema violou os princípios da administração pública.
- Incompatibilidade com o regime de subsídios dos agentes políticos
- Os agentes políticos devem receber remuneração por meio de subsídios fixados em parcela única, conforme o art. 39, §4º da Constituição.
A defesa da Prefeitura e do prefeito de Garanhuns sustentou que a medida tinha respaldo legal e visava equiparar direitos dos secretários aos dos servidores efetivos. Já a Câmara de Vereadores, em nota, disse que a aprovação ocorreu de forma transparente. Contudo, o Judiciário entendeu que a urgência da suspensão se impunha diante da ausência de previsão orçamentária.
Repercussões legais e soluções jurídicas para o caso do Prefeito de Garanhuns
A decisão que suspendeu o pagamento do auxílio-alimentação ao Prefeito de Garanhuns, ao vice e aos secretários gerou impactos significativos:
Impactos diretos:
- Reforça a atuação cidadã em defesa da moralidade administrativa;
- Gera precedentes para o controle social de medidas semelhantes em outros municípios;
- Expõe a necessidade de maior rigor técnico e jurídico na criação de leis que envolvam aumento de gastos públicos.
Soluções jurídicas aplicáveis:
- Ajuizamento de ação popular como meio de controle judicial dos atos administrativos.
- Propositura de Ação Civil Pública pelo Ministério Público para apuração de improbidade administrativa.
- Adoção de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre MP e município.
- Proposição de novo projeto de lei, com estudo de impacto e limite dentro da LRF.
- Ativação dos conselhos municipais de transparência e controle social.
Como podemos ajudar:
O Escritório de Advocacia Reis possui experiência consolidada na atuação em casos de improbidade administrativa, controle de legalidade de atos do poder público e defesa da moralidade na gestão pública. Atuamos na representação judicial e extrajudicial de cidadãos, entidades e gestores públicos comprometidos com a boa administração.
Advogado em Direito Administrativo
Como especialista em Direito Administrativo, é possível afirmar que o caso envolvendo o Prefeito de Garanhuns representa uma situação cada vez mais recorrente no cenário nacional. Trata-se da utilização da legislação municipal como instrumento para instituir benefícios que, na prática, comprometem princípios fundamentais da Administração Pública, especialmente o da moralidade administrativa.
A concessão desses benefícios, muitas vezes, ocorre à margem dos limites legais e orçamentários, configurando desvio de finalidade e violação às normas de controle de gastos. Nesse contexto, a atuação da Justiça torna-se fundamental para coibir práticas que colocam em risco a integridade da gestão pública e a confiança da população nas instituições.
A decisão liminar proferida no caso em questão evidencia não apenas a vigilância da sociedade civil, mas também a capacidade do Poder Judiciário de intervir de forma célere e eficaz diante de possíveis irregularidades. Tal medida reforça a importância do controle externo e da fiscalização sobre os atos administrativos.
Do ponto de vista jurídico, a jurisprudência brasileira tem se firmado no sentido de vedar a concessão de vantagens de natureza salarial que extrapolem os limites dos subsídios legalmente previstos. Essa orientação visa assegurar a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade e eficiência no serviço público.
Dessa forma, é bastante provável que qualquer recurso interposto pelo prefeito de Garanhuns contra a decisão liminar enfrente obstáculos significativos, a menos que o município consiga comprovar, de maneira inequívoca, que a concessão dos benefícios respeitou todos os requisitos legais e orçamentários exigidos. Caso contrário, a medida judicial tende a ser mantida pelas instâncias superiores.
Casos como esse servem de lição não apenas para gestores, mas também para os cidadãos, que têm o dever e o direito de fiscalizar os atos dos representantes eleitos.
O papel de um advogado especialista da Reis Advocacia
O advogado Jorge Luiz Ferreira Guimarães, sócio e advogado da Reis Advocacia, foi quem atendeu a ação popular que questionou a legalidade da lei e o impacto que os R$ 750 mil teria nos municípios. Temos orgulho em atuar com transparência, comprometimento e ética, especialmente em casos que envolvem Direito Administrativo e a defesa da coisa pública.
Sabemos como essas situações podem gerar insegurança, indignar a população e prejudicar o funcionamento da administração municipal. Por isso, estamos prontos para orientar você, seja como cidadão, servidor ou gestor.
Perguntas Frequentes sobre o caso do prefeito de Garanhuns
- O que é considerado improbidade administrativa nesse tipo de caso?
Improbidade ocorre quando um agente viola os princípios da administração, como moralidade, legalidade e eficiência, com ou sem enriquecimento ilícito. - O prefeito de Garanhuns pode criar benefício para si mesmo?
A criação de benefícios deve observar limites constitucionais e não pode ser feita sem previsão orçamentária ou estudo de impacto financeiro. - A decisão da Justiça contra o prefeito de Garanhuns é definitiva?
Não. É uma decisão liminar, mas com forte respaldo legal e tendência de manutenção em instâncias superiores. - Qual o papel da ação popular nesses casos?
A ação popular permite que qualquer cidadão questione judicialmente atos lesivos ao patrimônio público. - E se o benefício já tiver sido pago ao prefeito de Garanhuns e os outros?
Pode haver determinação de devolução, conforme decisão judicial e apuração de danos. - Outros municípios podem fazer o mesmo?
Se houver violação à LRF e aos princípios constitucionais, casos semelhantes também podem ser anulados. - Como saber se há abusos na minha cidade?
Fiscalize leis aprovadas, acompanhe diários oficiais e, em caso de dúvida, busque apoio jurídico.
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Referências:
Correio Braziliense – Justiça de PE suspende auxílio-alimentação criado por prefeito para ele mesmo

Dr. Tiago O. Reis, OAB/PE 34.925, OAB/SP 532.058, OAB/RN 22.557
Advogado há mais de 12 anos e sócio-fundador da Reis Advocacia. Pós-graduado em Direito Constitucional (2013) e Direito Processual (2017), com MBA em Gestão Empresarial e Financeira (2022). Ex-servidor público, fez a escolha consciente de deixar a carreira estatal para se dedicar integralmente à advocacia.
Com ampla experiência prática jurídica, atuou diretamente em mais de 5.242 processos, consolidando expertise em diversas áreas do Direito e oferecendo soluções jurídicas eficazes e personalizadas.
Atualmente, também atua como Autor de Artigos e Editor-Chefe no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados, orientações práticas e informações confiáveis para auxiliar quem busca justiça e segurança na defesa de seus direitos.





