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Como Proteger Seus Dados e Evitar Novas Fraudes no Contracheque?

Saiba como proteger seus dados e impedir novos golpes no contracheque por descontos indevidos. Veja ações práticas e jurídicas

Contracheque
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Proteção de Dados e Prevenção de Novas Fraudes em Cartões Consignados

A fraude em contracheques, especialmente envolvendo empréstimos e cartões de crédito consignados, tornou-se uma preocupação crescente para servidores públicos, aposentados e pensionistas. Golpistas aprimoram suas táticas constantemente, e a exposição de dados pessoais pode ser a porta de entrada para novos golpes. Se você já foi vítima de uma fraude ou quer se proteger proativamente, entender como seus dados são vulneráveis e quais medidas preventivas adotar é fundamental. Este guia abordará desde a forma como os criminosos obtêm suas informações até as ações práticas que você pode tomar para evitar que uma situação de fraude se repita, incluindo a importância de medidas jurídicas para garantir sua segurança e responsabilizar os envolvidos.

Como os dados dos servidores estão sendo capturados por golpistas

A captura de dados de servidores públicos e beneficiários do INSS por golpistas é um problema complexo, que se manifesta de diversas formas. Os criminosos utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas para obter informações pessoais e financeiras, que posteriormente são usadas para cometer fraudes, como a contratação indevida de empréstimos ou cartões consignados. Entender como esses dados são capturados é o primeiro passo para se proteger.

Uma das principais portas de entrada para os golpistas é o vazamento de dados. Isso pode ocorrer por meio de ataques cibernéticos a grandes bancos de dados, tanto de órgãos públicos quanto de empresas privadas que têm acesso às suas informações (birôs de crédito, financeiras, empresas de telemarketing). Esses vazamentos expõem milhões de CPFs, nomes completos, endereços, telefones, e até mesmo informações sobre a renda e o vínculo empregatício ou previdenciário dos servidores e aposentados.

Outra tática comum é a engenharia social. Nela, os golpistas manipulam as vítimas para que elas mesmas forneçam seus dados. Isso geralmente acontece por meio de:

  • Phishing: e-mails ou mensagens de texto falsos que se passam por bancos, órgãos do governo ou instituições conhecidas, solicitando dados pessoais sob pretextos urgentes (atualização cadastral, regularização de conta, liberação de valores).
  • Ligações telefônicas fraudulentas: golpistas que se apresentam como funcionários de bancos, INSS ou “correspondentes bancários”, oferecendo falsas propostas de empréstimos, portabilidade de dívidas ou reajustes de benefícios, e para isso solicitam dados sensíveis ou até senhas.
  • Sites e aplicativos falsos: páginas da web ou apps que imitam os oficiais, criados para roubar credenciais de acesso ou outras informações pessoais.
  • Abordagens presenciais: em alguns casos, criminosos podem se passar por agentes de crédito ou representantes, especialmente em regiões com grande concentração de idosos, para coletar dados.

Além disso, a compra e venda de listas de dados pessoais no mercado ilegal (deep web) é uma prática alarmante. Uma vez que seus dados básicos são comprometidos, eles se tornam um alvo fácil para novas abordagens e tentativas de golpe, pois os criminosos já possuem informações suficientes para parecerem “legítimos” em suas abordagens.

A falta de conscientização e a confiança excessiva em contatos não verificados também contribuem para a vulnerabilidade. Muitos servidores e aposentados, por não estarem familiarizados com as táticas de fraude, acabam compartilhando informações que jamais deveriam ser reveladas. Por isso, a educação e a desconfiança controlada são ferramentas poderosas na proteção de seus dados.

O que fazer após sofrer fraude para evitar reincidência

Sofrer uma fraude no contracheque é uma experiência traumática. Além de reverter o dano inicial, é fundamental tomar medidas imediatas e eficazes para evitar que a situação se repita. A proteção proativa de seus dados é a melhor defesa contra reincidências.

A primeira ação é registrar um Boletim de Ocorrência (BO), detalhando o máximo possível sobre a fraude (data, valores, instituição envolvida, como descobriu). O BO é a prova formal do crime e é indispensável para as próximas etapas. Em seguida, entre em contato imediatamente com a instituição financeira envolvida na fraude e com seu órgão pagador (INSS, órgão empregador) para relatar o ocorrido. Solicite o cancelamento do contrato fraudulento e a suspensão dos descontos, registrando todos os protocolos de atendimento. O banco e o INSS/órgão empregador têm o dever de agir ao serem notificados sobre a fraude.

É crucial monitorar seus contracheques e extratos bancários regularmente. Verifique cada lançamento e desconto com atenção. Qualquer valor desconhecido deve ser imediatamente questionado. Além disso, acesse os portais de serviços online do seu órgão (Sigepe para federais, por exemplo) ou do INSS (Meu INSS) para verificar a existência de empréstimos ou cartões consignados ativos que você não reconhece. Muitos golpes são descobertos apenas quando o desconto já está ocorrendo.

Para aumentar sua segurança, considere as seguintes medidas de proteção de dados:

  • Altere senhas: Mude as senhas de e-mail, redes sociais, bancos e de qualquer serviço online que possa conter seus dados pessoais. Use senhas fortes e únicas para cada serviço.
  • Ative a verificação em duas etapas: Sempre que possível, ative a autenticação de dois fatores para suas contas bancárias, e-mails e plataformas de serviços.
  • Cuidado com ligações, e-mails e mensagens suspeitas: Desconfie de contatos que solicitam dados pessoais, senhas ou códigos de segurança. Bancos e órgãos oficiais nunca pedirão esses dados por telefone ou e-mail. Se tiver dúvida, ligue para os canais oficiais.
  • Monitore seu CPF: Cadastre-se em serviços gratuitos de alerta de CPF (como o Registrato do Banco Central) que avisam sobre consultas ou abertura de contas/empréstimos em seu nome.
  • Restrinja o compartilhamento de informações: Seja cauteloso ao preencher formulários online ou compartilhar dados em redes sociais. Quanto menos informações suas estiverem disponíveis publicamente, menor o risco.
  • Limpeza de caixa de entrada/spam: Evite clicar em links desconhecidos e apague e-mails suspeitos.

Finalmente, considere procurar um advogado especializado para orientá-lo nas ações jurídicas cabíveis, seja para reverter a fraude existente ou para blindar seus dados contra futuras ocorrências. A reincidência de golpes, infelizmente, é comum, e a prevenção é a sua maior aliada.

Solicitação de bloqueio da margem consignável

Uma das medidas mais eficazes para prevenir novas fraudes envolvendo empréstimos e cartões consignados é a solicitação do bloqueio da margem consignável. Esta ação impede que novas operações de crédito sejam averbadas (registradas) em seu contracheque ou benefício sem sua expressa autorização, servindo como uma barreira de segurança importante contra futuras tentativas de golpe.

Para servidores públicos (federais, estaduais e municipais), o procedimento para bloquear a margem consignável pode variar ligeiramente de acordo com o órgão. No âmbito federal, o bloqueio pode ser feito no Sistema de Gestão de Pessoas (Sigepe). Geralmente, existe uma opção para “bloqueio de consignações” ou “gerenciamento de margem consignável”, onde o servidor pode solicitar a suspensão temporária ou permanente de novas averbações. É importante verificar o procedimento específico do seu RH ou portal do servidor.

Para aposentados e pensionistas do INSS, o bloqueio é conhecido como “bloqueio para novos empréstimos” ou “desbloqueio para empréstimos” e pode ser solicitado através do portal ou aplicativo “Meu INSS”. O segurado pode ativar ou desativar o bloqueio de seu benefício para averbações de novas operações de crédito consignado. O INSS geralmente exige que o benefício esteja desbloqueado por, no mínimo, 90 dias após a concessão inicial para que se possa contratar um empréstimo, mas o bloqueio pode ser solicitado a qualquer momento para prevenção de fraudes.

Ao solicitar o bloqueio, registre o protocolo da operação. Este comprovante é sua garantia de que a solicitação foi feita. Caso o banco ou alguma financeira tente averbar um empréstimo após o seu bloqueio, você terá a prova de que essa operação é indevida e fraudulenta. Embora o bloqueio da margem não impeça a tentativa de golpe em si, ele dificulta enormemente a efetivação do desconto, tornando a fraude mais difícil de ser consumada e mais fácil de ser identificada e revertida.

É fundamental que você discuta essa medida com seu advogado, especialmente se já foi vítima de fraude. O profissional poderá orientá-lo sobre o melhor momento para realizar o bloqueio e como utilizar essa prova em um eventual processo judicial, caso haja novas tentativas de desconto indevido.


Profissional jurídico em reunião estratégica

Cadastro em serviços de proteção ao crédito e denúncias na ANPD

Além das medidas diretas no seu contracheque, é essencial utilizar os serviços de proteção ao crédito e, quando cabível, registrar denúncias em órgãos reguladores, como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Essas ações são complementares e fortalecem sua rede de segurança contra fraudes.

Os serviços de proteção ao crédito, como Serasa, SPC Brasil e Boa Vista SCPC, oferecem ferramentas para monitorar seu CPF. É altamente recomendável que você se cadastre nos serviços de alerta desses birôs (alguns são gratuitos, como o Serasa Consumidor ou o Registrato do Banco Central). Esses alertas o notificam sempre que houver uma consulta ao seu CPF, um novo contrato em seu nome, ou qualquer alteração em seu score de crédito. Receber um alerta sobre uma consulta ou contrato que você não reconhece é um forte indicativo de tentativa de fraude, permitindo que você aja rapidamente para impedir a concretização do golpe.

No caso do Banco Central, o serviço Registrato é particularmente útil. Ele permite que você visualize todos os seus relacionamentos bancários (contas, empréstimos, financiamentos) e chaves Pix. Verificar periodicamente o Registrato pode ajudar a identificar operações fraudulentas em seu nome, como a abertura de contas ou empréstimos que você não contratou.

Para denúncias relacionadas a vazamentos ou uso indevido de seus dados pessoais, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) é o órgão responsável pela fiscalização da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Se você suspeita que seus dados foram vazados ou estão sendo usados de forma irregular para fins de fraude, registrar uma denúncia na ANPD é importante. Embora a ANPD não resolva seu caso individualmente (isso é feito na esfera judicial ou administrativa junto aos bancos), a denúncia contribui para que o órgão investigue as empresas e imponha sanções, ajudando a combater práticas abusivas em larga escala. Isso cria um ambiente mais seguro para todos os consumidores.

Essas medidas de monitoramento e denúncia são uma camada extra de proteção. Elas não apenas ajudam a detectar fraudes em potencial, mas também fornecem provas de sua diligência em proteger seus dados, o que pode ser útil em um processo judicial futuro.

Medidas jurídicas para responsabilizar os responsáveis

Além de proteger seus dados e reverter a fraude, é fundamental buscar medidas jurídicas para responsabilizar os culpados e as instituições que falharam na segurança. A atuação de um advogado especializado é crucial nesse processo, garantindo que você não só recupere o que perdeu, mas também obtenha indenização pelos danos sofridos.

A principal medida jurídica é a propositura de uma ação judicial contra a instituição financeira envolvida na fraude. Essa ação visa, primeiramente, o cancelamento definitivo do contrato fraudulento e a suspensão dos descontos indevidos no seu contracheque. Em segundo lugar, busca a restituição dos valores já descontados, geralmente em dobro, conforme prevê o Código de Defesa do Consumidor, quando há comprovação de má-fé ou ausência de engano justificável por parte do banco.

Além da restituição, a ação judicial busca a indenização por danos morais. Os tribunais têm reconhecido que a fraude consignada, especialmente quando afeta servidores, aposentados e pensionistas, causa mais do que um mero aborrecimento. A retirada de valores do contracheque sem autorização, a necessidade de buscar ajuda jurídica e a violação da segurança dos dados geram angústia e aflição, justificando a reparação pelos danos emocionais e pela perda de tempo útil.

O advogado irá reunir todas as provas que você coletou (Boletim de Ocorrência, protocolos de atendimento, extratos, contracheques, registros de bloqueio de margem) e as apresentará ao juiz. Ele também solicitará a inversão do ônus da prova, exigindo que o banco comprove a regularidade da contratação. Se o banco não apresentar o contrato, ou se o contrato for fraudulento, isso fortalecerá enormemente o seu caso.

É importante ressaltar que a responsabilidade do banco é objetiva, ou seja, independe da existência de culpa. A simples falha na segurança (permitir que uma fraude ocorra usando seu sistema ou dados) já o torna responsável pelos danos. Isso facilita a defesa do consumidor, pois não é necessário provar que o banco agiu com negligência, apenas que a fraude ocorreu em seu sistema.

Além da esfera cível, dependendo da gravidade da fraude, também pode haver a possibilidade de buscar a responsabilidade criminal dos fraudadores e das pessoas físicas envolvidas. No entanto, o foco principal na recuperação de valores e indenização costuma ser a ação cível contra o banco. Contar com um advogado experiente nessas causas é a chave para navegar pelo sistema judicial e garantir que seus direitos sejam plenamente restaurados.


Grupo de advogados em discussão legal

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Referências:

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dr tiago militar

Dr. Tiago O. Reis, OAB/PE 34.925, OAB/SP 532.058, OAB/RN 22.557

Advogado especializado em ações que envolvem militares há mais de 12 anos, ex-2º Sargento da Polícia Militar e Diretor do Centro de Apoio aos Policiais e Bombeiros Militares de Pernambuco. Atuou em mais de 3039 processos em defesa da categoria, obtendo absolvições em PADs, processos de licenciamento e conselhos de disciplina.

Criou teses relevantes, como o Ação do Soldo Mínimo, Auxílio-transporte, Promoção Decenal da Guarda e Fluxo Constante de Promoção por Antiguidade.
Foi professor de legislação policial e sindicante em diversos processos administrativos. Pós-graduado em Direito Constitucional e Processual, com MBA em Gestão Empresarial, é referência na luta por melhores condições jurídicas e de trabalho aos militares.

Atualmente, também é autor de artigos e e Editor-Chefe no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados na área de Direito Criminal, Militar e Processo Administrativo Disciplinar, com foco em auxiliar militares e servidores públicos na defesa de seus direitos.

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