“Indenização por danos materiais e morais. Autor que é estudante universitário e foi injustamente acusado do crime de estupro. Consequências do ato incriminador que resultaram na invasão de sala de aula pelos Apelantes, que o acusaram de ser um estuprador. Fato que repercutiu e importou em dano moral a ser indenizado. Conduta do Autor considerada para arbitramento do valor indenizatório. Sentença mantida. Verba honorária sem majoração. Recurso não provido.” (TJ-SP, Apelação Cível nº 1011824-81.2015.8.26.0011)
O Tribunal de Justiça de São Paulo analisou um caso que, além de juridicamente relevante, toca em feridas profundas da vida universitária: a responsabilização civil por falsa imputação de crime. Um estudante foi acusado injustamente de estupro por colegas de faculdade, que invadiram uma sala de aula e o expuseram publicamente, causando-lhe um trauma irreversível.
Este artigo comenta a jurisprudência com profundidade, apresentando:
- Como a justiça reagiu à acusação injusta;
- Quais direitos possui quem é acusado falsamente de estupro;
- As principais teses jurídicas utilizadas pelo TJ-SP;
- Como buscar indenização por dano moral em situações semelhantes;
- Os cuidados legais ao lidar com boatos e acusações públicas.
Se você ou alguém que conhece passou por situação semelhante, este artigo poderá ajudá-lo a entender seus direitos e como a justiça tem tratado casos de falsa acusação. Afinal, ser acusado injustamente de estupro é uma marca profunda, e a reparação jurídica, ainda que tardia, pode devolver parte da dignidade perdida.
Indenização por acusado injustamente de estupro: Jurisprudência comentada do TJ-SP
A jurisprudência do TJ-SP no processo nº 1011824-81.2015.8.26.0011 é clara ao reconhecer que a vítima foi acusada injustamente de estupro, sem qualquer elemento probatório que sustentasse tal afirmação. A acusação foi baseada em boatos, reforçados por atitudes agressivas e violentas dos colegas de faculdade, que culminaram na invasão de uma sala de aula.
A vítima, então estudante de Geografia, foi alvo de uma verdadeira campanha difamatória dentro do campus universitário, com pichações, ameaças e isolamento social. Após os eventos, sentiu-se obrigado a trancar sua matrícula.
O julgamento reconheceu que a atitude dos acusados configurou ofensa grave à honra do estudante. O Tribunal destacou:
“Não se trata de uma simples discussão acalorada em sala de aula. Trata-se de uma acusação grave, feita de forma violenta e leviana, dentro de uma sala de aula e na frente de inúmeros outros alunos.”
A indenização fixada em R$ 10.000,00 para cada um dos réus considerou o abalo emocional do autor, o impacto social e acadêmico da acusação, além do caráter punitivo e pedagógico da decisão.
Como advogado especialista em responsabilidade civil, avalio que essa decisão é emblemática. Demonstra como o Judiciário pode (e deve) atuar para frear a cultura do linchamento moral, principalmente quando alguém é acusado injustamente de estupro — um crime que, pela sua gravidade, causa repulsa social imediata e pode arruinar vidas.
Decisão judicial do TJ-SP e teses aplicadas na ação por acusado injustamente de estupro
A decisão do TJ-SP está fundamentada em princípios constitucionais como:
- Presunção de inocência (art. 5º, LVII da CF);
- Devido processo legal (art. 5º, LIV);
- Contraditório e ampla defesa;
- Direito à honra e imagem.
O caso demonstra como a violação desses princípios gera responsabilidade civil. As principais teses jurídicas aplicadas foram:
- A inexistência de prova da prática do crime;
- O reconhecimento de que a divulgação do boato foi leviana e injustificada;
- A conduta agressiva e autoritária dos réus ao invadir sala de aula e exigir punição imediata;
- O abalo psicológico gerado pela acusação pública sem provas;
- O entendimento de que a justiça com as próprias mãos é incompatível com o Estado Democrático de Direito.
Além disso, o TJ-SP destacou que “fazer justiça com as próprias mãos” é atitude vedada pela ordem jurídica. O julgamento enfatizou que mesmo diante de suspeitas, cabe às autoridades competentes investigar e julgar.
A jurisprudência comentada reforça a necessidade de cautela e responsabilidade na disseminação de informações, especialmente quando se trata de crime sexual. O simples boato, quando impulsionado por ações deliberadas como a invasão de uma sala de aula, pode configurar dano moral de grande proporção, sobretudo quando alguém é acusado injustamente de estupro.
O que aprender com o caso de acusado injustamente de estupro
Se você é estudante universitário ou atua em ambiente acadêmico, essa decisão judicial ensina lições importantes:
- Nunca tome atitudes com base em boatos;
- Acusar alguém de estupro exige provas concretas;
- A denúncia deve ser feita à polícia, nunca tratada com justiça privada;
- A honra é um bem jurídico protegido e sua violação gera indenização;
- Ser acusado injustamente de estupro pode arruinar uma vida, mesmo que a pessoa seja inocente.
A jurisprudência do TJ-SP serve como alerta para evitar atitudes impulsivas. O dano moral causado ao autor não decorreu apenas da falsa acusação, mas também da forma como ela foi veiculada — com violência, gritos, e invasão de aula.
Esse caso ilustra que, quando se ultrapassam os limites do debate legítimo e da liberdade de expressão, e se entra no campo da ofensa e da agressão, o Poder Judiciário pode — e deve — atuar para restaurar a justiça.
Como buscar seus direitos se foi acusado injustamente de estupro
Pessoas que passam por situações semelhantes à descrita na jurisprudência do TJ-SP devem seguir os seguintes passos para buscar reparação:
- Reunir provas: salve mensagens, vídeos, áudios ou testemunhos que comprovem a falsa acusação ou atitudes ofensivas;
- Registrar um boletim de ocorrência: isso cria um registro oficial da situação e pode evitar agravamentos;
- Buscar apoio psicológico: ser acusado injustamente de estupro pode gerar traumas duradouros;
- Procurar um advogado especialista em responsabilidade civil: ele poderá ingressar com uma ação por danos morais;
- Exigir reparação judicial: a justiça pode conceder indenização e restaurar parte da dignidade perdida.
O caminho jurídico nem sempre é simples, especialmente quando a opinião pública já julgou. No entanto, decisões como a do TJ-SP provam que é possível restabelecer a verdade e responsabilizar aqueles que ultrapassam os limites legais da convivência.
O processo judicial exige paciência e coragem, mas também pode ser libertador. Ninguém merece carregar o peso de ser acusado injustamente de estupro, principalmente quando a justiça pode reparar esse dano.
Advogado para acusado injustamente de estupro
Como visto nessa jurisprudência que estamos comentando, ser acusado injustamente de estupro é uma das experiências mais devastadoras que alguém pode enfrentar. O processo nº 1011824-81.2015.8.26.0011 do TJ-SP mostra que a justiça reconhece o sofrimento de quem passa por essa situação e admite a reparação por meio de indenização por dano moral.
Se você ou alguém próximo foi acusado injustamente de estupro, busque ajuda e garanta justiça para recomeçar sua vida com dignidade.
Acesse o tribunal e saiba mais sobre o processo: Apelação Cível nº 1011824-81.2015.8.26.0011
Perguntas Frequentes sobre acusado injustamente de estupro
- O que devo fazer se fui acusado injustamente de estupro?
Procure imediatamente um advogado e registre boletim de ocorrência para relatar os fatos sob sua perspectiva. - É possível processar quem me acusou falsamente?
Sim. Você pode mover ação por danos morais e até por denunciação caluniosa, dependendo do caso. - Preciso ter provas para entrar com a ação?
Sim. Quanto mais provas você tiver (testemunhos, prints, vídeos), maior a chance de sucesso. - Posso ser preso mesmo se a acusação for falsa?
Infelizmente sim, se houver indícios suficientes. Por isso é essencial se defender desde o início. - Qual o valor da indenização por acusação falsa?
Varia conforme o caso. No TJ-SP, o valor fixado foi R$ 10.000,00. - Acusação falsa é crime?
Sim. Pode configurar denunciação caluniosa, crime previsto no art. 339 do Código Penal. - Se eu provar minha inocência, o nome sai do Google?
Você pode pedir judicialmente a remoção de conteúdos que afetem sua honra. - A Universidade tem responsabilidade nesses casos?
Se a omissão for comprovada, sim. Pode haver responsabilidade subsidiária. - Quanto tempo tenho para processar?
O prazo para ação de danos morais é, em geral, de 3 anos. - Preciso de advogado para isso?
Sim. Apenas um advogado pode atuar em ações judiciais dessa natureza com eficácia.
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Referências:
STF proíbe uso da tese de legítima defesa da honra em crimes de feminicídio — decisão unânime
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a tese de “legítima defesa da honra” é inconstitucional e não pode ser utilizada como justificativa em casos de feminicídioTese da legítima defesa da honra é inconstitucional — Informativo STF
Informativo oficial do STF reforça essa questão.
Sócio e Advogado – OAB/PE 41.203
Advogado criminalista, militar e em processo administrativo disciplinar, especializado em Direito Penal Militar e Disciplinar Militar, com mais de uma década de atuação.
Graduado em Direito pela FDR-UFPE (2015), pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil (ESA-OAB/PE) e em Tribunal do Júri e Execução Penal. Professor de Direito Penal Militar no CFOA (2017) e autor do artigo "Crise na Separação dos Três Poderes", publicado na Revista Acadêmica da FDR (2015).
Atuou em mais de 956 processos, sendo 293 processos administrativos disciplinares, com 95% de absolvições. Especialista em sessões do Tribunal do Júri, com mais de 10 sustentações orais e 100% de aproveitamento.
Atualmente, também é autor de artigos jurídicos no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados na área de Direito Criminal, Militar e Processo Administrativo Disciplinar, com foco em auxiliar militares e servidores públicos na defesa de seus direitos.





