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Direito ao Reparo: o que muda para consumidores e marcas?

O Direito ao Reparo garante acesso a peças, manuais e autonomia no conserto. Saiba o que está em jogo para consumidores e indústrias.

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Doutor Tiago Oliveira Reis

Advogado e Sócio Fundador

Publicado em: 23/05/2025

Movimento pelo Direito ao Reparo: Implicações para Consumidores e Fabricantes

O direito ao reparo é uma pauta crescente no Brasil e no mundo. Com origem nos debates sobre sustentabilidade e liberdade do consumidor, esse movimento visa garantir que os usuários possam consertar seus próprios produtos, com acesso a peças, manuais e suporte técnico. Além de combater a obsolescência programada, o Direito ao Reparo representa uma mudança estrutural na relação entre fabricantes e consumidores.

O que é o movimento pelo Direito ao Reparo e por que ele vem ganhando força no Brasil e no mundo?

O Direito ao Reparo (Right to Repair) é um movimento que defende a possibilidade de os consumidores realizarem consertos em seus próprios produtos eletrônicos, eletrodomésticos e outros bens duráveis. O movimento exige que as empresas forneçam informações técnicas, ferramentas, peças de reposição e software de diagnóstico para que técnicos independentes ou os próprios usuários possam reparar produtos sem depender exclusivamente da assistência técnica autorizada.

No Brasil, essa pauta vem ganhando destaque diante dos altos custos de reparo, descarte precoce de produtos e da crescente preocupação com os impactos ambientais do consumo excessivo. O movimento também dialoga com o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e propõe o fortalecimento dos direitos à informação, à durabilidade e à liberdade de escolha.

Quais são os principais objetivos do Direito ao Reparo e como ele pretende empoderar os consumidores?

Entre os principais objetivos do Direito ao Reparo estão:

  • Ampliar o acesso a informações técnicas e manuais de conserto;
  • Garantir a venda de peças e ferramentas por parte dos fabricantes;
  • Combater práticas de obsolescência programada;
  • Reduzir o custo e o tempo de reparo dos produtos;
  • Proteger o meio ambiente ao prolongar a vida útil de bens duráveis.

Na prática, o movimento busca equilibrar o poder na relação de consumo, dando ao cliente maior autonomia sobre os bens adquiridos. O empoderamento se traduz na liberdade de escolha entre o reparo por terceiros, por conta própria ou pela assistência autorizada.

Como os fabricantes estão reagindo às demandas por maior transparência e acesso a peças e manuais de conserto?

Grande parte da indústria resiste ao movimento, alegando riscos à segurança, perda de controle sobre os sistemas proprietários e ameaças à propriedade intelectual. Fabricantes de eletrônicos, como Apple e Samsung, tradicionalmente dificultam o reparo externo, bloqueando sistemas, limitando a disponibilidade de peças e negando assistência a equipamentos consertados por terceiros.

No entanto, a pressão legislativa e de consumidores vem forçando algumas mudanças. Em resposta, algumas empresas começaram a oferecer kits de reparo e plataformas online com informações técnicas básicas, embora em escala ainda limitada e com restrições.

De que forma o Direito ao Reparo dialoga com a sustentabilidade e a economia circular?

O Direito ao Reparo está diretamente alinhado com os princípios da sustentabilidade e da economia circular. Ao permitir o reparo e reuso de produtos, reduz-se a necessidade de novos recursos naturais, o volume de resíduos eletrônicos e a pegada ambiental da produção e descarte de bens de consumo.

Países que incentivam o reparo como política pública demonstram menores índices de geração de lixo eletrônico e maior eficiência no ciclo de vida dos produtos. A sustentabilidade, portanto, não é apenas um efeito colateral, mas um objetivo central do movimento.

Quais são os produtos mais afetados pelas limitações atuais de reparo e manutenção?

Os produtos mais afetados pela ausência de direito ao reparo são os eletrônicos, especialmente:

  • Smartphones e tablets;
  • Laptops e notebooks;
  • Impressoras e scanners;
  • Geladeiras, lavadoras e micro-ondas modernos;
  • Veículos com sistemas eletrônicos embarcados.

Estes produtos frequentemente apresentam dificuldades de conserto por exigirem ferramentas proprietárias, peças difíceis de encontrar ou softwares bloqueados por senha e DRM (gestão de direitos digitais).

Como o Código de Defesa do Consumidor pode ser modificado para incorporar o Direito ao Reparo?

O CDC, em vigor desde 1990, já garante ao consumidor o direito à informação adequada e clara sobre os produtos e serviços (art. 6º, III) e à durabilidade dos bens (art. 18). No entanto, a legislação pode ser aprimorada para obrigar os fabricantes a:

  • Fornecer peças e manuais de conserto por tempo mínimo de vida útil do produto;
  • Disponibilizar assistência técnica acessível e transparente;
  • Garantir interoperabilidade de componentes e liberdade de escolha no reparo.

Projetos de lei como o PL 4806/2019 e o PL 3403/2021 já tramitam no Congresso com propostas de modificar o CDC nesse sentido.

O que dizem os projetos de lei em tramitação sobre o tema no Congresso Nacional?

No Brasil, diversos projetos de lei foram apresentados para garantir o direito ao reparo. Um deles é o PL 4806/2019, que propõe a obrigatoriedade de fornecimento de peças e informações técnicas pelos fabricantes. O texto destaca a responsabilidade ambiental dos produtores e prevê penalidades para a recusa injustificada de fornecimento.

Outro destaque é o PL 3403/2021, que visa alterar o CDC para incorporar obrigações específicas sobre a reparabilidade de produtos, com destaque para equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos. Esses projetos seguem em análise nas comissões e ainda dependem de maior mobilização social para avançar.

Existem precedentes internacionais que influenciam a regulamentação brasileira sobre o direito ao conserto?

Sim. Países como França, Estados Unidos e União Europeia vêm liderando a regulamentação do Direito ao Reparo. A França, por exemplo, criou o “índice de reparabilidade”, obrigando fabricantes a informar ao consumidor a facilidade de conserto de seus produtos.

Nos EUA, estados como Nova York e Minnesota aprovaram leis que impõem aos fabricantes a obrigação de fornecer peças e manuais. A Comissão Europeia, por sua vez, apresentou regulamentações para reforçar a durabilidade e reparabilidade dos produtos como parte do Pacto Verde Europeu.

Quais os impactos práticos para os consumidores caso o Direito ao Reparo seja aprovado no Brasil?

Os principais impactos positivos incluem:

  • Maior autonomia do consumidor sobre seus bens;
  • Redução de custos com assistência técnica e manutenção;
  • Maior durabilidade dos produtos adquiridos;
  • Estímulo ao mercado de reparo independente, gerando renda e emprego;
  • Redução do descarte prematuro de aparelhos ainda funcionais.

Na prática, o consumidor passaria a ter mais opções e menor dependência dos fabricantes, além de mais clareza sobre a qualidade e vida útil dos bens adquiridos.

Os fabricantes terão obrigações específicas com relação à disponibilização de peças e ferramentas?

Sim. Com a aprovação de uma legislação clara, os fabricantes poderão ser obrigados a:

  • Disponibilizar peças sobressalentes por período determinado (ex.: 5 ou 10 anos);
  • Permitir acesso a manuais técnicos e códigos de diagnóstico;
  • Remover travas de software que impeçam consertos legítimos.

Essas obrigações estão previstas em legislações internacionais e tendem a ser incorporadas nos projetos de lei nacionais.

Como o Direito ao Reparo pode reduzir os custos com assistência técnica e prolongar a vida útil dos produtos?

Com o acesso liberado a peças e informações, o consumidor poderá escolher reparos mais acessíveis, inclusive com profissionais independentes. Isso reduz os custos de manutenção e evita a substituição prematura de bens que poderiam continuar funcionando por muitos anos com consertos simples.

Que papel os órgãos de defesa do consumidor devem desempenhar na regulamentação e fiscalização?

Órgãos como o Procon, o Ministério da Justiça e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) devem fiscalizar o cumprimento das obrigações dos fabricantes. Eles também podem promover campanhas educativas, realizar mediações e aplicar sanções administrativas em casos de descumprimento.

O Direito ao Reparo compromete a propriedade intelectual e os segredos industriais das empresas?

Essa é uma das principais alegações dos opositores do movimento. No entanto, especialistas apontam que é possível regulamentar o direito ao reparo sem violar patentes ou segredos industriais, desde que a legislação preveja limites e proteções técnicas adequadas.

Quais são os argumentos jurídicos utilizados por fabricantes contrários ao movimento?

Entre os argumentos estão:

  • Risco de violação de patentes e marcas registradas;
  • Risco de uso inadequado dos produtos por técnicos não autorizados;
  • Preocupações com segurança dos usuários após reparos fora dos padrões da marca.

Esses argumentos são contestados por entidades de defesa do consumidor, que afirmam que a informação e o acesso não comprometem a inovação nem a segurança, quando bem regulamentados.

Há riscos à segurança do consumidor em reparos feitos por terceiros ou pelo próprio usuário?

Como em qualquer serviço técnico, existem riscos, mas eles podem ser reduzidos com qualificação profissional, informações claras e certificações. O movimento não busca eliminar a assistência autorizada, mas ampliar o leque de escolhas do consumidor com segurança e responsabilidade.

Como advogados especializados em direito do consumidor podem atuar em defesa do direito ao reparo?

Advogados especializados podem atuar em ações coletivas, ações civis públicas, defesa de consumidores em juízo e junto a órgãos administrativos. Também podem apoiar organizações civis na elaboração de projetos de lei e atuar no advocacy legislativo.

O movimento pode alterar definitivamente a lógica de consumo e obsolescência programada no Brasil?

Sim. A consolidação do Direito ao Reparo pode representar uma ruptura no modelo de consumo descartável e forçar os fabricantes a adotar práticas mais éticas e sustentáveis. Ao empoderar o consumidor, o movimento também fortalece a cidadania e a economia circular.

Protegendo o consumidor e o planeta

O movimento pelo Direito ao Reparo representa um novo paradigma nas relações de consumo, colocando a transparência, a liberdade e a sustentabilidade no centro das discussões. Para garantir que esse direito se consolide no Brasil, é fundamental o engajamento da sociedade, a atuação do legislativo e o suporte jurídico adequado.

Na Reis Advocacia, estamos comprometidos com a defesa do consumidor e com o fortalecimento de seus direitos.

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Dr tiago Reis

Dr. Tiago O. Reis, OAB/PE 34.925, OAB/SP 532.058, OAB/RN 22.557

Advogado há mais de 12 anos e sócio-fundador da Reis Advocacia. Pós-graduado em Direito Constitucional (2013) e Direito Processual (2017), com MBA em Gestão Empresarial e Financeira (2022). Ex-servidor público, fez a escolha consciente de deixar a carreira estatal para se dedicar integralmente à advocacia.

Com ampla experiência prática jurídica, atuou diretamente em mais de 5.242 processos, consolidando expertise em diversas áreas do Direito e oferecendo soluções jurídicas eficazes e personalizadas.

Atualmente, também atua como Autor de Artigos e Editor-Chefe no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados, orientações práticas e informações confiáveis para auxiliar quem busca justiça e segurança na defesa de seus direitos.

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