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Deepfakes e Fake News: Como o Direito Brasileiro Combate a Desinformação

Entenda os impactos das fake news e deepfakes, as responsabilidades legais e as ações contra a desinformação.

Imagem telefone FAKE NEWS O QUE É E COMO SE PROTEGER?
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Deepfakes e Fake News: O Impacto das Tecnologias de IA na Democracia e a Resposta Jurídica

A recente notificação da Advocacia-Geral da União (AGU) ao Facebook, exigindo a remoção de um vídeo manipulado por inteligência artificial que atribui declarações falsas ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reacende o debate sobre os desafios e responsabilidades envolvendo deepfakes e fake news.

Neste artigo, discutiremos:

  1. O que são deepfakes e como eles funcionam;
  2. Os impactos das fake news na sociedade e na democracia;
  3. As estratégias jurídicas disponíveis para combater a disseminação de conteúdos falsos;
  4. O papel das plataformas digitais na prevenção e exclusão de conteúdos manipulados.

O Que São Deepfakes e Como Funcionam?

Deepfakes são vídeos, áudios ou imagens gerados por inteligência artificial, utilizando técnicas avançadas de aprendizado profundo (deep learning). Essa tecnologia permite criar conteúdos altamente realistas, em que a imagem ou voz de uma pessoa é manipulada para parecer autêntica.

No caso notificado pela AGU, o deepfake fazia Fernando Haddad parecer proferir declarações falsas sobre a criação de impostos sobre animais de estimação e pré-natal. As características citadas, como cortes bruscos e discrepâncias no timbre de voz, são indícios de manipulação por IA.

Impactos das Fake News e Deepfakes na Democracia

1. Confusão Pública e Desinformação

Deepfakes e fake news têm o potencial de confundir o público, especialmente em temas de relevância política, como políticas fiscais e sociais.

Nesse caso, o vídeo adulterado atribuía ao ministro da Fazenda uma posição que ele não defende, desinformando a população sobre os rumos da tributação no país.

2. Prejuízo à Imagem Pública

A manipulação de vídeos com figuras públicas pode causar danos irreparáveis à reputação, além de comprometer a credibilidade das instituições governamentais.

3. Risco ao Processo Democrático

A disseminação de informações falsas interfere na opinião pública e pode afetar processos políticos, como debates legislativos ou decisões eleitorais.

Como o Direito Brasileiro Combate Deepfakes e Fake News?

O Brasil possui um arcabouço jurídico que pode ser aplicado para lidar com deepfakes e fake news. Alguns instrumentos incluem:

1. Código Penal (Art. 138 a 140)

Atribuir falsamente a alguém um fato desonroso pode configurar crime de calúnia, difamação ou injúria.

2. Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014)

O Marco Civil estabelece que provedores de aplicações de internet têm o dever de remover conteúdos ilícitos quando notificados judicialmente ou por órgãos competentes.

3. Lei de Proteção de Dados Pessoais (LGPD, Lei nº 13.709/2018)

A utilização indevida de dados biométricos, como a voz ou imagem de uma pessoa, pode violar a LGPD, especialmente quando feita sem consentimento.

4. Lei das Fake News (PL 2630/2020)

A legislação em tramitação busca criar mecanismos para rastrear e combater a disseminação de informações falsas nas plataformas digitais.

Responsabilidades das Plataformas Digitais

As redes sociais e plataformas de compartilhamento de vídeos, como o Facebook, desempenham um papel crucial na contenção de fake news e deepfakes.

1. Diretrizes Comunitárias
O Facebook, por exemplo, possui Padrões da Comunidade que proíbem conteúdos que interfiram em processos políticos.

2. Tecnologia para Identificação de Manipulações
Plataformas podem adotar ferramentas baseadas em IA para identificar conteúdos manipulados, como varreduras de metadados e análise de padrões visuais e auditivos.

3. Etiquetagem de Conteúdos
Caso a exclusão imediata não seja viável, a etiquetagem de vídeos como “alterados” ou “criados por IA” ajuda a alertar o público sobre a veracidade do conteúdo.

A Resposta da AGU no Caso Haddad

A notificação enviada pela AGU ao Facebook exige a remoção do vídeo em até 24 horas, com base nos Termos de Uso da plataforma e no impacto causado pelas informações falsas.

Além disso, a AGU sugere que, caso o conteúdo não seja excluído, ele seja sinalizado como manipulado, para evitar confusões futuras.

A Importância da Educação Digital

Para conter os danos causados por deepfakes e fake news, não basta uma abordagem jurídica ou tecnológica. É essencial investir na educação digital, promovendo a conscientização sobre:

  • Como identificar conteúdos falsos;
  • A importância de verificar fontes confiáveis;
  • Os impactos sociais e legais da disseminação de fake news.

O caso envolvendo o deepfake de Fernando Haddad evidencia os desafios trazidos pela tecnologia quando utilizada de forma inadequada. Embora a IA tenha grande potencial para o bem, é fundamental que a sociedade, o direito e as plataformas digitais trabalhem juntos para combater os abusos.

5 pontos essenciais sobre como o Direito Brasileiro combate deepfakes e fake news

  1. O que são deepfakes e fake news: Deepfakes são vídeos, áudios ou imagens manipulados com inteligência artificial para simular falas ou ações falsas de pessoas reais. Já as fake news são notícias falsas divulgadas intencionalmente, com aparência de conteúdo jornalístico, para enganar, manipular ou obter vantagens políticas, econômicas ou sociais.
  2. Impactos na democracia e na sociedade: Essas práticas geram confusão pública, desinformação e danos à imagem de pessoas e instituições. Podem influenciar eleições, destruir reputações e comprometer a confiança nas instituições democráticas.
  3. Instrumentos legais existentes:
    • Código Penal (arts. 138 a 140): calúnia, difamação e injúria;
    • Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014): responsabilização de provedores e proteção de dados;
    • Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018): uso indevido de dados pessoais em manipulações digitais;
    • Lei das Fake News (PL 2630/2020 – em tramitação): busca regular redes sociais e combater desinformação em massa.
  4. Atuação do STF e AGU: O Supremo Tribunal Federal lançou o Guia Ilustrado Contra as Deepfakes e a Advocacia-Geral da União já notificou plataformas como o Facebook para remover conteúdos manipulados que atribuíam falas falsas a autoridades públicas.
  5. Responsabilidade das plataformas: Redes sociais e aplicativos de mensagens têm sido pressionados a identificar, sinalizar e remover conteúdos falsos. A legislação busca responsabilizar essas empresas por omissão ou disseminação de desinformação em larga escala.

Comparativo: Deepfakes x Fake News

AspectoDeepfakesFake News
FormaVídeo, áudio ou imagem manipulada por IATexto ou notícia falsa com aparência jornalística
ObjetivoSimular falas ou ações falsasDesinformar ou manipular opinião pública
RastreabilidadeMais difícil de detectarMais fácil de verificar com checagem de fatos
Base legalLGPD, Código Penal, Marco CivilCódigo Penal, PL 2630/2020

Perguntas Frequentes (FAQ)

Deepfake é crime?
Depende do uso. Se for usado para caluniar, difamar ou enganar, pode configurar crime previsto no Código Penal e gerar responsabilização civil e criminal.

Fake news é liberdade de expressão?
Não. A liberdade de expressão não protege mentiras deliberadas que causem dano a terceiros ou à coletividade.

Como denunciar uma deepfake ou fake news?
É possível denunciar às plataformas digitais, ao Ministério Público, à Polícia Civil ou à Polícia Federal, dependendo do caso.

Existe lei específica para deepfakes?
Ainda não. Mas há projetos em tramitação e o uso indevido pode ser enquadrado em leis já existentes, como a LGPD e o Código Penal.

O que é o PL das Fake News?
É o Projeto de Lei nº 2630/2020, que busca regulamentar redes sociais, combater desinformação e exigir mais transparência de plataformas digitais.


Leia também:


Referências externas:


📞 Foi vítima de desinformação ou precisa de orientação jurídica sobre conteúdo falso?
Fale com um advogado criminalista e defenda seus direitos com segurança jurídica.

A luta contra deepfakes e fake news é uma questão de responsabilidade coletiva. Se você encontrou conteúdo falso ou manipulador, denuncie. É apenas com a participação ativa de todos que será possível proteger a verdade e fortalecer a democracia.

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DR JORGE GUIMARAES NOVO

Sócio e Advogado – OAB/PE 41.203

Advogado criminalista, militar e em processo administrativo disciplinar, especializado em Direito Penal Militar e Disciplinar Militar, com mais de uma década de atuação.

Graduado em Direito pela FDR-UFPE (2015), pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil (ESA-OAB/PE) e em Tribunal do Júri e Execução Penal. Professor de Direito Penal Militar no CFOA (2017) e autor do artigo "Crise na Separação dos Três Poderes", publicado na Revista Acadêmica da FDR (2015).

Atuou em mais de 956 processos, sendo 293 processos administrativos disciplinares, com 95% de absolvições. Especialista em sessões do Tribunal do Júri, com mais de 10 sustentações orais e 100% de aproveitamento.

Atualmente, também é autor de artigos jurídicos no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados na área de Direito Criminal, Militar e Processo Administrativo Disciplinar, com foco em auxiliar militares e servidores públicos na defesa de seus direitos.

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