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O que é a Teoria Tríplice da Delinquência?

A Teoria Tríplice da Delinquência propõe uma nova visão sobre as causas do crime com foco em moral, vergonha e medo.

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Teoria Tríplice da Delinquência: Uma Nova Abordagem Criminológica

A compreensão dos fatores que levam um indivíduo a cometer atos delituosos é um dos grandes desafios da criminologia. A Teoria Tríplice da Delinquência surge como uma proposta inovadora ao romper com os modelos tradicionais de explicação do crime. Essa abordagem baseia-se na falência de três barreiras internas de contenção do comportamento antissocial: moral, vergonha e medo.

Ao contrário de teorias que priorizam determinantes exclusivamente biológicos, econômicos ou sociais, a Teoria Tríplice concentra-se em dimensões subjetivas e psicológicas que atuam como inibidores internos da delinquência. Neste artigo, exploramos os fundamentos dessa teoria, sua relevância para a criminologia contemporânea e suas possíveis implicações práticas para o sistema penal brasileiro.

O que é a Teoria Tríplice da Delinquência e por que ela propõe uma ruptura com os modelos tradicionais da criminologia?

Proposta por especialistas em criminologia contemporânea, a Teoria Tríplice da Delinquência defende que o ato criminoso decorre da falência simultânea ou progressiva de três barreiras internas:

  • Moral: a consciência interna do certo e errado;
  • Vergonha: o medo do julgamento social e da reprovação alheia;
  • Medo: o temor das consequências legais e punitivas.

Segundo essa teoria, a prática de um crime ocorre quando o indivíduo não encontra, nessas barreiras, resistência suficiente. Ou seja, o comportamento delinquente não é motivado apenas por fatores externos, mas principalmente por falhas internas no sistema de contenção psíquica.

Essa concepção rompe com modelos tradicionais que enxergam o crime exclusivamente como produto da pobreza, da desorganização social ou da hereditariedade, ao propor uma abordagem mais integrada e subjetiva.

Como a falência das barreiras da moral, vergonha e medo pode explicar o comportamento delinquente?

O tripé da moral, vergonha e medo atua como uma espécie de “freio” psicológico. A ausência de qualquer uma dessas barreiras enfraquece a resistência interna ao crime. A ausência de todas elas, segundo a teoria, torna o indivíduo vulnerável à delinquência.

Se o indivíduo não vê problema moral em roubar, não se envergonha por isso e não teme ser punido, o crime se torna um caminho viável, especialmente se houver oportunidade. Portanto, a delinquência, nessa perspectiva, é resultado de uma sucessiva falência das defesas internas construídas ao longo da vida.

Em que a Teoria Tríplice se diferencia das explicações biológicas, sociais e psicológicas clássicas da criminalidade?

As explicações tradicionais da criminologia muitas vezes se concentram em:

  • Teorias biológicas: associam o comportamento criminoso a fatores genéticos ou disfunções neurológicas;
  • Teorias sociais: destacam a influência do meio, da pobreza, da exclusão e da marginalização;
  • Teorias psicológicas: focam em transtornos de personalidade e traumas individuais.

A Teoria Tríplice não nega a relevância desses fatores, mas propõe um olhar mais comportamental e funcional, examinando o enfraquecimento das três barreiras internas como principal elemento desencadeador da conduta criminosa.

Qual é a origem teórica e o desenvolvimento histórico da Teoria Tríplice da Delinquência?

Inspirada em estudos de criminologia europeia e norte-americana, a teoria começou a ser consolidada a partir de pesquisas com adolescentes infratores e adultos reincidentes, onde se verificava o padrão de ausência das três barreiras como elemento comum.

Ela também encontra respaldo em estudos da psicologia moral (Kohlberg), da teoria das emoções (Tomkins) e do controle social informal (Hirschi). A proposta ganhou notoriedade por agregar diferentes áreas e permitir aplicações tanto preventivas quanto repressivas.

A ausência de vergonha e culpa é suficiente para explicar a prática de atos delituosos?

Não necessariamente. A teoria indica que é a combinação da ausência dessas barreiras que cria o terreno propício ao crime. Uma pessoa pode não sentir vergonha, mas ainda assim possuir uma moral rígida ou temer a punição. A criminalidade geralmente surge quando há quebra simultânea ou escalonada das três barreiras.

Como o medo da punição atua (ou falha) como inibidor do comportamento criminoso segundo essa teoria?

O medo é considerado o inibidor mais imediato. No entanto, se o indivíduo não acredita na eficácia do sistema penal ou já se encontra em situação de marginalização extrema, o medo deixa de ser efetivo. A impunidade, o descrédito no Judiciário e a sensação de anonimato nas grandes cidades enfraquecem essa barreira.

A moralidade individual é construída ou inata? Qual seu papel como barreira contra o crime?

A teoria reconhece que a moralidade é majoritariamente construída ao longo da vida, por meio da família, escola, religião e experiências sociais. Ela é a primeira barreira contra o crime. Quando bem desenvolvida, atua como autocensura. Mas se for fragilizada por traumas, omissão familiar ou ausência de limites, abre espaço para a transgressão.

Existe correlação entre o colapso das três barreiras e crimes de maior gravidade? O que mostram os estudos?

Pesquisas indicam que criminosos reincidentes ou envolvidos em crimes violentos demonstram menos sensibilidade à vergonha, menor senso moral e praticamente nenhum medo das consequências legais. Isso sugere que o colapso das três barreiras está mais associado a delitos graves, enquanto transgressões pontuais podem ocorrer por falhas parciais.

Quais são as implicações práticas dessa teoria para políticas públicas de prevenção à criminalidade?

Essa abordagem propõe que políticas públicas foquem na reconstrução das três barreiras. Isso envolve:

  • Investimento em educação ética e cidadã desde a infância;
  • Campanhas que reforcem o valor da reputação e da vergonha social como mecanismos de controle informal;
  • Reformas no sistema penal para torná-lo mais eficiente, acessível e crível.

Também aponta para a importância de ações intersetoriais que envolvam escolas, comunidades, igrejas, ONGs e a própria família como agentes de contenção da delinquência.

Como a criminologia contemporânea pode incorporar a Teoria Tríplice em suas análises e intervenções?

Incorporar essa teoria implica abandonar a visão reducionista de que o crime é consequência exclusiva da pobreza ou da predisposição genética. Implica compreender o infrator como alguém cuja estrutura de contenção interna está danificada. Isso permite intervenções mais humanas, preventivas e efetivas, voltadas à reconstrução dessas defesas psíquicas.

Essa abordagem pode ser aplicada ao sistema penal brasileiro? Quais seriam os desafios e possibilidades?

No contexto brasileiro, essa teoria pode ser usada tanto na prevenção quanto na reintegração de apenados. Os desafios incluem:

  • Capacitação de profissionais para identificar essas falhas de barreira;
  • Implementação de programas socioeducativos em unidades prisionais e socioeducativas;
  • Criação de critérios objetivos para avaliação moral e emocional no processo judicial.

Apesar das dificuldades, a teoria oferece possibilidades promissoras para políticas penais mais restaurativas, com foco na transformação pessoal do infrator e não apenas na punição.

Qual o papel da educação e da estrutura familiar no fortalecimento dessas três barreiras de proteção?

A família é o primeiro espaço de construção da moral, da vergonha e do medo responsável. Quando funcional, transmite valores, reforça limites e oferece suporte emocional. A escola, por sua vez, deve complementar esse processo, promovendo o respeito às normas, o autoconhecimento e a empatia.

A ausência desses pilares, aliada a contextos de violência, abandono ou negligência, contribui para o surgimento de indivíduos com baixa resistência interna ao crime.

Compreender para transformar

A Teoria Tríplice da Delinquência oferece uma leitura refinada do comportamento criminoso, valorizando aspectos emocionais, morais e sociais que atuam como freios internos à delinquência. Seu maior mérito é humanizar o debate e propor estratégias de prevenção que vão além do endurecimento das penas ou da simples repressão policial.

Ao compreender que o crime nasce do colapso de mecanismos internos de autocontrole, podemos construir políticas mais eficazes, que atuem na raiz do problema e não apenas em suas consequências.

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DR JORGE GUIMARAES NOVO

Sócio e Advogado – OAB/PE 41.203

Advogado criminalista, militar e em processo administrativo disciplinar, especializado em Direito Penal Militar e Disciplinar Militar, com mais de uma década de atuação.

Graduado em Direito pela FDR-UFPE (2015), pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil (ESA-OAB/PE) e em Tribunal do Júri e Execução Penal. Professor de Direito Penal Militar no CFOA (2017) e autor do artigo "Crise na Separação dos Três Poderes", publicado na Revista Acadêmica da FDR (2015).

Atuou em mais de 956 processos, sendo 293 processos administrativos disciplinares, com 95% de absolvições. Especialista em sessões do Tribunal do Júri, com mais de 10 sustentações orais e 100% de aproveitamento.

Atualmente, também é autor de artigos jurídicos no Blog da Reis Advocacia, onde compartilha conteúdos jurídicos atualizados na área de Direito Criminal, Militar e Processo Administrativo Disciplinar, com foco em auxiliar militares e servidores públicos na defesa de seus direitos.

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